quarta-feira, 5 de agosto de 2009




"Somos todos disc-jockeys, apresentadores e animadores. (...)
Democratização sem precedentes da palavra: cada um de nós é incitado a telefonar 
para o emissor, cada um de nós pretende dizer alguma coisa 
a partir da sua experiência íntima, tornar-se locutor e ser ouvido.
(Mas quanto mais ruído) menos há que dizer, 
e quanto mais se solicita a subjectividade, mais anónimo e vazio o efeito se revela. 
Paradoxo reforçado ainda pelo facto de ninguém se interessar, no fundo, 
por tal profusão de expressão, é verdade que com uma excepção significativa: 
a do próprio emissor ou criador. É isso precisamente o narcisismo, 
a expressão a todo o custo, o primado do acto de comunicação sobre a natureza 
do que é comunicado, a indiferença pelos conteúdos, a reabsorção lúdica do sentido, 
a comunicação sem finalidade nem público, o destinador tornado o seu principal destinatário.
(...) Comunicar por comunicar, exprimir-se sem outro objectivo além de se exprimir 
e ser registado por um micro-público, o narcisismo revela aqui, como noutros lugares, 
a sua conivência com a dessubstancialização pós-moderna, com a lógica do vazio."


in "A era do vazio" de Gilles Lipovetsky



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