domingo, 13 de janeiro de 2019
Vejo o teu rosto quotidiano
como se a penumbra
tivesse olhos
ou como se as raízes pudessem vêr
através da sombra
Estou no húmus da casa
no húmus do silêncio
e vejo através das vértebras
de uma luz subterrânea
o teu rosto de terra
Há sempre muros e muros
e o nevoeiro dos dias
mas tu és uma chama
sobre a mesa posta
Vem a noite e as serpentes
envolvem as lâmpadas
e reduzem o espaço
Cada um procura
na palma das mãos
os grãos verdes do mar
O monstro vago da noite
desfoca o nosso olhar
e os joelhos vacilam
O teu rosto persiste
como se o teu torso fosse
o tronco de uma árvore
António Ramos Rosa
in "o teu rosto"
1994
Antologia Poética 2001
Prefácio, Bibliografia e Selecção
Ana Paula Coutinho Mendes
Publicações Dom Quixote
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