sábado, 10 de fevereiro de 2018




"António da Fonseca e Arcângela do Sacramento foram um dos pares mais célebres de réus condenados por molinosismo, criando novo receio e mostrando como a Inquisição reagia perante as metamorfoses das expressões da vida religiosa."

António da Fonseca seguia "as doutrinas do sacerdote espanhol Miguel de Molinos, místico defensor de uma nova forma de oração contemplativa (...) uma "pacífica união com Deus" (...) nesse estado admitia-se que o corpo pudesse ser sujeito a movimentos sensuais"

"A cúmplice do padre Fonseca era Arcângela do Sacramento. 
Desde a adolescência que, instigada  pela palavra do missionário franciscano Varatojo António das Chagas, iniciara a prática da oração mental e desejara ser santa, protagonizando fingidos favores celestes. 

A sua vida cruzou-se com António da Fonseca em 1689, quando tinha 26 anos, numa altura em que também ele passara em missão pela sua terra e, ao confessá-la, se impressionara com as virtudes e "maravilhas" que Deus nela obrava. 

Ali se precipitaram num desordenado caminho em que, a par da relação espiritual, se envolveram em actos de amor carnal, uma paixão erótico-mística na qual o desejo sexual era nomeado por subtis expressões de amor celeste."

"Arcângela confessará, na fase final do processo, que era atacada por terríveis escrúpulos, mas que ao confessá-lo ao padre Fonseca, este lhe explicava que as acções lascivas eram "sinal do amor divino"." 



in "História da Inquisição Portuguesa 1536-1821" 
por Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, 
ed. A esfera dos livros, 2013,
páginas 281, 282




Sem comentários:

outros dias do caderno